Aquí la versión original, más abajo mi traducción que quizá no sea la mejor.
Até passarinho passa –– Bartolomeu Campos de Queirós, São Paulo, Moderna, 2003.
Nossa casa já não existe. Como tantas outras coisas, ela passou. Mas naquele tempo ela tinha uma pequena varanda forrada de ladrilho xadrez, frio e limpo. Galhos do maracujá cresciam e se enroscavam com ternura na madeira do telhado. E suas flores, brincos roxos de princesa, viviam breves, dependuradas como estrelas em um céu baixo que as mãos podiam tocar. O outro céu ficava muito longe e demandava tempo encontrá-lo. Eu não sabia se os frutos engoliam as flores ou se as estrelas se transformavam em frutos. Os olhos não davam conta de acompanhar as transformações. A natureza era lenta e os olhos muito aflitos.
O certo é que de repente as flores se despediam sem guerras e os frutos brotavam, devagarinho, em seus lugares. Cresciam sem pressa e amadureciam em seu ritmo. As borboletas, carregadas de arco-íris, pintavam assustadas o ar com sete cores, carregando em seus vôos o exagero do poente. Abelhas, procurando doçuras, visitavam o miolo das flores, negociando a música de suas asas pelo mel. As cigarras serravam a tarde invadindo nossos ouvidos com um canto sem perdão. E, se o vento soprava, era para anunciar que um nada transparente e concreto varria o mundo expulsando o calor, afagando com brisa a natureza.
Quando o dia suspeitava escurecer, inaugurando a tarde, um sossego rico em paz descansava sobre nossas conversas e incertezas. Longe, as nuvens viajavam ligeiras para o horizonte buscando derradeiros tons nos restos da luz do sol partindo. Os vaga-lumes, sem congestionarem a noite, pingavam dois pontos de luz no escuro. A imaginação completaria as orações feitas de segredos insuspeitáveis. E o nosso alpendre, frio e limpo, se fazia lugar para as perguntas, as dúvidas, os enigmas e por vezes as lamúrias. Queixava-se das partidas, das perdas, dos desencontros e da brevidade da vida. A noite fechada, depois de matar o dia, consentia a dança de miúdos insetos em volta da lâmpada de luz branda. Era uma dança circular e agitada, até cair as asas de vidro pelo ladrilho frio e limpo. Morriam de muito dançar, eu me espantava.
Mas, no calor do dia vagaroso, os passarinhos aproximavam para colher as migalhas dos bolos, que caíam de propósito de nossas mãos sobre o ladrilho frio e limpo. Bicavam apressados esses preciosos pedacinhos, como garimpeiros catam em suas bateias tesouros entre areias. Acostumados com nossos olhares permissivos e amáveis, eles circulavam, entre nós, sem sustos, mas com disfarçada intimidade. Nos visitavam sem canções mas sem nos negar sua secreta poesia. No corpo dos passarinhos está escrito um poema que assusta até a alma mais desavisada. Sua leveza traz uma festa desmedida, capaz de invejar os mais contidos.
Havia de tudo em nossa varanda: suspiros, suspeitas e sonhos. Menos o medo, pois a beleza era mais forte e não deixava o tempo nos assustar. Nossa amizade com a natureza persistia acima de todas as coisas e nada nos surpreendia. Nem os mistérios, que eram tantos, tentávamos desvendar. Era bom viver em suposições e cercados de fartos acontecimentos por adivinhar. Cada dia um encanto tomava lugar do outro. O mundo, assim obscuro, exigia um olhar mais delicado, um pensamento mais cauteloso.
Eu possuía, já naquele tempo, alguma pequena tristeza trazida pela chuva fina, pelo absurdo do presente, pelo convite que a madrugada trazia para viver mais um dia. A beleza me sufocava. Essa tristeza não permitia minha vida ser mais completa. Faltava sempre alguma coisa sem resposta, alguma interrogação sem desconfiar da pergunta. Era um incômodo capaz de tornar adoecida a felicidade. Minhas penas não cobriam o corpo nem aqueciam meus pesares. Apenas esfriavam meu coração.
Mas eu não encontrava sinal de tristeza na existência dos passarinhos. Um sempre contentamento brilhava entre suas penas. Todo o universo Ihes parecia ser construído apenas de deslumbramentos. Seus pés, com passos miúdos percorriam os quatro cantos do alpendre pelo prazer de andar, sem conhecer a rosa-das-ventos. O norte estava onde o desejo apontava. Só exercitavam as asas quando a distância era longa e o vazio muito largo. Uma bonita preguiça eu percebia em seus gestos, quase sempre. Então esticavam as asas, abrindo-as em concha, cobrindo a cabeça e protegendo os pensamentos como se fossem pérolas. Cada movimento dos passarinhos permanecia gravado em mim como um modelo de rigorosa criação.
Nunca me indaguei, no silêncio do alpendre, se passarinho pensava. Meu espanto e minha inveja eram pelos seus vôos. Voar não me parecia tarefa simples. Primeiro era preciso o vazio, o nada, o aberto, o sem-fronteiras. Isso interrompia minha esperança. Eu vivia sempre rodeado de impossibilidades, vigiado por paredes, muros e grades. Minhas asas só existiam para sonhar. E voar exige deslocamentos. Em sonho o vôo é apenas uma mentira. Mas, se os passarinhos não pensavam, eu acreditava que pressentiam a chegada da noite, a ameaça da chuva, o percurso dos ventos.
Diferenciavam o grão da pedra, conheciam a madureza dos frutos apenas pela cor, observavam a profundeza das poças para os banhos, sentiam a ameaça dos olhares e temiam o perigo das gaiolas. E mais, eles compreendiam que para viver era preciso ninhos, tecidos com gravetos e cuidados, em lugares ocultos e seguros. Mesmo longe da terra eles necessitavam de um abrigo. Ter um ninho é poder retornar, é ter um lugar de repouso, uma referência, um agasalho. E, se eu encontrava, desavisadamente, alguma promessa de outras vidas dentro de seus ninhos, fazia de conta que não via para não gorá-Ios.
E como eu amava esses passarinhos! Eram vírgulas delicadas pontuando o vazio e as suspeitas. Quando eles surgiam, em bando ou solitários, meu coração deixava de bater para não assustá-Ios. Meu corpo ficava imóvel para não impedir suas procuras. Minha respiração interrompida fazia surgir uma pausa necessária para inaugurar uma liberdade mais definitiva. E minhas mãos cruzadas prometiam avisá-Ios que só os tocaria com o olhar. Eu pensava que para amar passarinho só os olhos bastavam. Mas eu sofria de uma coceira incômoda na palma da mão. Vontade de pentear suas penas com meus dedos.
Mas havia naquele tempo, entre tantos outros, um passarinho que eu mais amava. Ele chegava transportado por um vôo raso. Pousava sobre a grade da varanda, olhando por todos os lados. Parecia querer estar só comigo, eu pensava com vaidade. Depois me pedia licença para entrar, como se precisasse. Eu, que aguardava ansioso sua presença, recebia sua chegada como se Deus me visitasse. Percebendo meu consentimento, ele pisava o ladrilho frio e limpo. Andava com cuidado para não se machucar. Ele conhecia os perigos do chão. No ar não existe caminho traçado, todo espaço é direção. Na terra sofre-se de muitos impedimentos. Não me pedia nada, esse amigo amado, nem se mostrava interessado em migalhas. Nossa felicidade era maior: estar face a face, sem susto ou posse. Trazia uma música na garganta, mas nunca pude escutá-la. Ele apreciava em silêncio minha varanda e a amava pelo que havia nela de frio, limpo e quietude.
Mas eu nunca soube seu endereço. Devia morar por perto, entre os abraços das folhas com o telhado. Bastava a tarde se armar para que ele se escondesse, de improviso, entre os ramos e o telhado. Nunca me dizia adeus. Devia acreditar que a vida era para sempre e que depois de cada dia haveria outro dia, eternamente. Também eu não cogitava do tempo, muito embora, e por tantas vezes, ouvia falar do céu, lugar em que todos iam morar para sempre, entre anjos. E passarinho, para virar anjo era fácil. Já possuía asa, leveza e flauta.
Assim vivíamos. Nossa varanda era um lugar de visitas. Nela, a natureza, em surdina, floria, crescia, mudava de acordo com as estações. E o meu amigo passarinho aquecia, com seu amor, a paisagem fria e limpa. Mesmo pequena, nossa varanda escondia pólen, exalava perfume, permitia a brisa, assistia ao amadurecimento dos frutos e recebia o dia e a noite sem preconceitos. Minha varanda não dormia. Havia sempre rumores de vida em crescimento, insetos entre suas folhagens e sombras, ruídos de raízes em crescimento.
Bastava ter ouvidos para escutar.
Tudo se deu em uma única manhã. Acordei cedo com a madrugada entrando em meu quarto pelas frestas da janela. Uma saudade incômoda me fez levantar sem preguiça. Saí para a varanda carregado por um espanto ainda desconhecido. Não me lembro de ter sonhado. Sempre tive medo da verdade dos sonhos. Mas, como um passarinho, eu pressentia que um inverno havia chegado. Olhei para o chão e vi um pequeno embrulho de penas. Soltei meu coração que passou a bater pelo corpo inteiro. Minhas pernas tremeram e por um instante tentei me convencer de que tudo era um engano. Cheguei mais perto, com os olhos embaçados de perda e susto.
Ali restava meu passarinho, coberto de penas e imóvel. Fiquei encolhido num canto da varanda, agora mais fria e limpa. Não sabia quem estava mais morto. Aos poucos, um vazio foi tomando conta do meu mundo. Descruzei as mãos e o passarinho não se assustou. Permaneceu parado, sem mais possibilidades de vôos, sem necessidade de ninho, sem se alegrar com minha presença. Não pensei em pentear suas penas com meus dedos. Continuei fiel às nossas promessas. A água dos meus olhos trouxe para minha boca um gosto de mar. Meu corpo inteiro se afogava numa tristeza exagerada. Não havia remédio capaz de remediar a sua partida, solucei. Tentei me consolar imaginando um céu com anjos e asas, sem dias e noites. Mas nada abrandava meu luto. Chorei baixo como se fosse possível esquecer com as lágrimas a ausência de um definitivo amor.
Entre meus guardados havia uma caixinha de papelão colorida, estampada com nuvens e estrelas. Busquei sem revelar para ninguém o seu destino. Forrei com algumas folhas mortas trazidas pelo vento, umedecidas pelo orvalho. Procurei tornar macio seu último ninho. Em volta da casa havia um canteiro de flores. Escolhi uma sombra e cavei uma pequena cova.
Deitei no fundo o corpo do meu amigo, agora sem canto ou vôo. Cobri com terra, ternura e desalento. Encontrei uma pedra rolada e branca como um ovo e coloquei sobre o lugar. Prometi ao meu amigo nunca revelar sua partida nem sussurrar sobre nossa amizade. Guardaria só para mim tamanha saudade. Passei o resto do dia assentado no alpendre frio e limpo, sem olhos para mais nada. Meu coração estava cheio de vazio. Quando a noite chegou fui para a cama definitivamente só, sem ter a esperança como companheira. Nem futuro eu guardava. Com o cobertor enrolei o meu corpo por inteiro. E no escuro da primeira noite, em crua solidão, só um pensamento cruel e claro me acompanhava: até passarinho passa.
Hasta el pajarito pasa… (Traducción al español)
Nuestra casa ya no existe. Como tantas otras cosas, ella dejó de existir. Pero en aquel tiempo tenía una pequeña terraza techada con ladrillo, frío y limpio. Racimos de maracuyá crecían y se enroscaban con ternura en la madera del tejado. Y sus flores, aros violetas de princesa, vivían breves, colgadas como estrellas en un cielo cercano que las manos podían tocar. El otro cielo quedaba muy lejos y llevaba tiempo encontrarlo. Yo no sabía si los frutos se tragaban las flores o si las estrellas se transformaban en frutos. Los ojos no podían acompañar las transformaciones. La naturaleza era lenta y los ojos miraban muy angustiados.
Lo cierto es que de repente las flores se despedían sin dar batalla y los frutos brotaban, despacito, en sus lugares. Crecían sin prisa y maduraban a su ritmo. Las mariposas, cargadas de arco iris, pintaban asustadas el aire de siete colores, cargando en sus vuelos la exageración del poniente. Las abejas, buscando dulzuras, visitaban el corazón de las flores, negociando la música de sus alas por la miel. Las cigarras dividían la tarde invadiendo nuestros oídos con un canto sin perdón. Y, si el viento soplaba, era para anunciar que una nada transparente y concreta barría el mundo expulsando el calor, acariciando la naturaleza con la brisa.
Cuando el día sospechaba la oscuridad, inaugurando la tarde, un sosiego rico en paz descansaba sobre nuestras conversaciones e incertezas. Lejos, las nubes viajaban ligeras por el horizonte buscando los tonos últimos en los restos de luz del sol que estaba partiendo. Las luciérnagas, sin congestionar la noche goteaban dos puntos de luz en la sombra. La imaginación completaría las oraciones hechas de secretos insospechables. Y nuestra terraza, fría y limpia, se hacía lugar para las preguntas, las dudas, los enigmas y a veces los lamentos. Se quejaba de las partidas, de las pérdidas, de los desencuentros y de la brevedad de la vida. La noche cerrada, después de matar el día, consentía el baile de pequeños insectos alrededor de la lámpara de luz débil. Era un baile circular y agitado, hasta que caían las alas de vidrio por el ladrillo frío y limpio. Morían de bailar tanto y yo me espantaba.
Pero en el calor del día tranquilo, los pajaritos se aproximaban para recoger las migajas de las tortas, que caían a propósito de nuestras manos sobre el ladrillo frío y limpio. Picoteaban apurados esos preciosos pedacitos, como los buscadores de metales buscan en sus cribas tesoros entre las arenas. Acostumbrados a nuestras miradas permisivas y amables, circulaban entre nosotros, sin miedos, pero con una intimidad enmascarada. Nos visitaban sin canciones pero sin negarnos su secreta poesía. En el cuerpo de los pajaritos está escrito un poema que asusta hasta al alma más distraída. Su levedad trae una fiesta desmedida, capaz de ser envidiada por los más reprimidos.
Había de todo en nuestra terraza: suspiros, sospechas y sueños. Menos miedo, porque la belleza era más fuerte y no dejaba tiempo para que nos asustáramos. Nuestra amistad con la naturaleza persistía encima de todas las cosas y nada nos sorprendía. Ni siquiera intentábamos develar los misterios, que eran tantos. Era bueno vivir entre suposiciones y cercados de abundantes acontecimientos por adivinar. Cada día un encanto tomaba el lugar de otro. Así oscuro, el mundo, exigía una mirada más delicada, un pensamiento más cauteloso.
Yo tenía, ya en aquel tiempo, alguna pequeña tristeza traída por la llovizna, por el absurdo del presente, por la invitación que la madrugada traía para vivir un día más. La belleza me sofocaba. Esa tristeza no permitía que mi vida fuera más completa. Había siempre alguna cosa sin respuesta, alguna interrogación sin desconfiar de la pregunta. Era una incomodidad capaz de enfermar la felicidad. Mis penas no cubrían mi cuerpo ni calentaban mis pesares. Solamente enfriaban mi corazón.
Pero yo no encontraba ninguna señal de tristeza en la existencia de los pajaritos. Una alegría permanente brillaba siempre entre sus plumas. Les parecía que todo el universo estaba construido únicamente con deslumbramientos. Sus pies, con pasos pequeños recorrían los cuatros puntos cardinales del techo de la terraza por el mero placer de andar sin conocer la rosa de los vientos. El norte estaba donde apuntaba el deseo. Solamente ejercitaban las alas cuando la distancia era larga y el vacío muy extenso. Yo percibía una pereza bonita en sus gestos, casi siempre. Entonces extendían las alas, formando un caparazón que cubría su cabeza, protegiendo los pensamientos como si fuesen perlas. Cada movimiento de los pajaritos quedaba grabado en mí como un modelo de rigurosa creación.
Nunca me pregunté, en el silencio de la terraza, si el pajarito pensaba. Tenía espanto y envidia por sus vuelos. Volar no me parecía tarea simple. Primero era preciso el vacío, la nada, lo abierto, el sin-fronteras. Eso interrumpía mi esperanza. Yo vivía siempre rodeado de imposibilidades, vigilado por paredes, muros y gradas. Mis alas sólo existían para soñar. Y volar exige desarraigos. En el sueño el vuelo es solamente una mentira. Pero, si los pajaritos no pensaban, yo creía que presentían la llegada de la noche, la amenaza de la lluvia y el recorrido de los vientos.
Diferenciaban las semillas de las piedras, conocían la maduración de los frutos solamente por el color, observaban la profundidad de los charcos para sus baños, sentían la amenaza de las miradas y temían el peligro de las jaulas. Y también, comprendían que para vivir es necesario tener nidos, construidos con ramitas y cuidados, en lugares ocultos y seguros. Aunque estuvieran lejos de la tierra, necesitaban un refugio. Tener un nido es poder volver, es tener un lugar de reposo, una referencia, un abrigo. Y si yo encontraba, inesperadamente, alguna promesa de otras vidas dentro de sus nidos, hacía de cuenta que no la veía para no malograr los huevos.
¡Y cómo amaba a esos pajaritos! Eran signos de puntuación haciendo pausas en el vacío y en las sospechas. Cuando venían, en bandada o solitarios, mi corazón dejaba de latir para no asustarlos. Mi cuerpo se quedaba inmóvil para no impedir sus búsquedas. Mi respiración interrumpida hacía surgir una calma necesaria para inaugurar una libertad más definitiva. Y mis manos cruzadas prometían que solamente los tocaría con la mirada. Pensaba que para amar un pajarito solamente bastaban los ojos. Pero sufría una picazón incómoda en la palma de la mano. Eran ganas de peinar sus plumas con mis dedos.
Pero había en aquel tiempo, entre tantos otros, un pajarito que amaba más que al resto. Él llegaba transportado por un vuelo raso. Se posaba sobre una grada de la terraza, mirando para todos lados. Parecía que quería estar solamente conmigo, según pensaba yo con vanidad. Después me pedía permiso para entrar, como si fuera necesario. Yo, que aguardaba ansioso su presencia, recibía su llegada como si Dios me visitara. Percibiendo mi consentimiento, pisaba el ladrillo frío e limpio. Andaba con cuidado para no lastimarse. Conocía los peligros del suelo. En el aire no existe un camino trazado, todo el espacio es dirección. En la tierra se soportan muchos obstáculos. No me pedía nada, ese amigo amado, ni se mostraba interesado en migajas. Nuestra felicidad más grande era: estar cara a cara, sin miedo ni interés. Traía una canción en su garganta, pero nunca pude escucharla. Él apreciaba en silencio mi terraza y la amaba por lo que había en ella de frío, y limpio y por la quietud.
Pero nunca supe su dirección. Debía vivir cerca, entre los abrazos de las hojas con el tejado. Bastaba que llegara la tarde para que se escondiera, de improviso, entre las ramas y el tejado. Nunca me decía adiós. Debía creer que la vida era para siempre y que después de cada día habría otro, eternamente. Tampoco yo reflexionaba sobre el tiempo, aunque muchas veces oía hablar del cielo, lugar en el que todos vivirían para siempre, entre ángeles. Y era fácil para el pajarito volverse ángel. Ya tenía alas, levedad y música.
Así vivíamos. Nuestra terraza era un lugar de visitas. En ella, la naturaleza, en silencio, florecía, crecía, cambiaba de acuerdo con las estaciones. Y mi amigo pajarito calentaba, con su amor, el frío y limpio paisaje. Aunque fuera pequeña, nuestra terraza escondía polen, exhalaba perfume, permitía la brisa, asistía a la maduración de los frutos y recibía el día y la noche sin prejuicios. Mi terraza no dormía. Había siempre rumores de vida en progresión, insectos entre sus follajes y sombras, ruidos de raíces en crecimiento. Bastaba tener oídos para escuchar.
Todo sucedió en una única mañana. Me desperté temprano con la madrugada entrando en mi cuarto por las rendijas de la ventana. Una nostalgia incómoda me hizo levantar sin pereza. Salí para la terraza cargado de un espanto todavía desconocido. No recuerdo haber soñado. Siempre tuve miedo de la verdad de los sueños. Pero, como un pajarito, presentía que el invierno había llegado. Miré el piso y vi un pequeño revoltijo de plumas. Liberé mi corazón que comenzó a latirme en todo el cuerpo. Mis piernas temblaron y por un instante intenté convencerme de que todo era un engaño. Me acerqué más, con los ojos empañados de pérdida y miedo.
Allí descansaba mi pajarito, cubierto de plumas e inmóvil. Me quedé encogido en una esquina de la terraza, ahora más fría y limpia. No sabía quién estaba más muerto. Al poco tiempo, un vacío fue apoderándose de mi mundo. Abrí las manos y el pajarito no se asustó. Se quedó quieto, sin más posibilidades de vuelos, sin necesidad de nido, sin alegrarse con mi presencia. No pensé en peinar sus plumas con mis dedos. Continué fiel a nuestras promesas. El agua de mis ojos me trajo a la boca el gusto del mar. Mi cuerpo entero se ahogaba en una tristeza exagerada. No había remedio capaz de remediar su partida, sollocé. Intenté consolarme imaginando un cielo con ángeles y alas, sin días ni noches. Pero nada ablandaba mi luto. Lloré despacito como si fuese posible olvidar con las lágrimas la ausencia de un amor definitivo.
Entre mis tesoros había una cajita de cartón colorido, estampada con nubes y estrellas. La busqué sin revelar a nadie su destino. La llené con algunas hojas traídas por el viento, humedecidas por el rocío. Traté de hacer suave su último nido. A la vuelta de la casa había un cantero de flores. Elegí una sombra y cavé una pequeña fosa.
Puse en el fondo el cuerpo de mi amigo, ahora sin canto ni vuelo. Lo cubrí con tierra, ternura y desaliento. Encontré una piedra redonda y blanca como un huevo y la coloqué sobre el lugar. Prometí a mi amigo nunca revelar su partida ni susurrar sobre nuestra amistad. Solamente para mí guardaría esa nostalgia tan grande. Pasé el resto del día, situado en la terraza techada, fría y limpia, sin ojos para nada más. Mi corazón estaba lleno de vacío. Cuando la noche llegó me fui a la cama definitivamente solo, sin tener siquiera la esperanza como compañera. Ni siquiera futuro. Con el cubrecama enrollé mi cuerpo entero. Y en la oscuridad de la primera noche, en la cruda soledad, solamente un pensamiento cruel y claro me acompañaba: hasta el pajarito pasa.